IMAGINE a cena: Carlos entra arrastando os pés na sala de Roberto, com
os ombros visivelmente caídos sob o peso de suas preocupações. Roberto olha
compassivamente para seu amigo, esperando que ele fale. “Não sei se vou
conseguir fechar aquele contrato”, suspira Carlos. “Há tantos obstáculos, e a
diretoria está mesmo me pressionando.” “Por que toda essa preocupação,
Carlos?”, pergunta Roberto confiantemente. “Você sabe que o melhor homem para
essa tarefa é você, e eles também sabem disso. Não se precipite. Você acha isso
ruim? Ora, no mês passado . . .” Roberto conta alguns detalhes
engraçados sobre seu próprio pequeno fiasco e, pouco depois, seu amigo deixa a
sala rindo e aliviado. Roberto sente-se feliz por ter ajudado.
E imagine também que Roberto, ao chegar em casa naquela tarde, logo percebe
que sua esposa, Raquel, também está deprimida. Ele a cumprimenta de maneira
especialmente animada, e espera que ela lhe diga o que a faz sentir-se assim.
Depois de um silêncio tenso e petrificante, ela desabafa: “Não agüento mais!
Esse novo chefe é um tirano!” Roberto faz com que ela se sente, põe o braço no
ombro dela e diz: “Querida, não fique tão irritada. Olhe, isso é apenas um
emprego. Os chefes são assim mesmo. Você devia ver como meu chefe esbravejou
hoje. Mas se isso for demais para você, simplesmente peça demissão.”
“Você nem se importa com meus sentimentos!”, replica Raquel. “Você nunca
me escuta! Eu não posso pedir demissão! Você não ganha o suficiente.” Ela corre
para o quarto, e chora profusamente. Roberto fica parado à frente da porta fechada,
atônito, perguntando-se o que aconteceu. Por que essas reações tão antagônicas
às palavras de consolo de Roberto?
Conflito entre os
sexos?
Alguns atribuiriam a diferença nessas ilustrações a um único fato:
Carlos é homem; Raquel é mulher. Pesquisadores de comunicação acreditam que as
dificuldades de diálogo no casamento muitas vezes se devem à diferença entre os
sexos. Livros como You Just Don’t Understand (Você
Simplesmente Não Entende) e Men Are From Mars, Women
Are From Venus (Os Homens São de Marte, as Mulheres de
Vênus) promovem a teoria de que homens e mulheres, embora falem o mesmo idioma,
têm estilos de comunicação nitidamente diferentes.
Inquestionavelmente, quando Jeová criou a mulher a partir do homem, ela
não era um simples modelo ligeiramente modificado. O homem e a mulher foram
projetados de maneira maravilhosa e ponderada para complementar um ao outro
— física, emocional, mental e espiritualmente. Acrescente a essas
diferenças inatas as complexidades da criação e da experiência de vida
individuais e a moldagem das pessoas segundo a cultura, o ambiente e o conceito
da sociedade sobre o que é varonil ou feminil. Devido a essas influências,
podem-se isolar certos padrões na maneira em que homens e mulheres se comunicam.
Mas os elusivos “homem típico” ou “mulher típica” talvez existam apenas nos
livros de psicologia.
Tipicamente, as mulheres se destacam por sua sensibilidade, no entanto,
muitos homens são admiravelmente brandos nos seus tratos com pessoas. A
capacidade de raciocínio lógico pode ser mais atribuída a homens; contudo, há
muitas mulheres dotadas de aguçada e analítica perspicácia. Portanto, embora
seja impossível rotular qualquer traço como exclusivamente masculino ou
estritamente feminino, uma coisa é certa: compreender a perspectiva do outro
pode fazer a diferença entre coexistência pacífica e guerra declarada,
especialmente no casamento.
O desafio diário da comunicação homem-mulher no casamento é tremendo.
Muitos maridos discernidores atestam que a ilusoriamente simples pergunta:
“Gostou do meu novo penteado?” pode vir carregada de perigos. Muitas esposas
diplomáticas aprendem a evitar perguntar repetidamente: “Por que você não pede
informações?”, quando o marido se perde numa viagem. Em vez de menosprezar as
peculiaridades aparentes do cônjuge e obstinadamente apegar-se às suas
próprias, alegando que “é assim que eu sou”, cônjuges amorosos olham
abaixo da superfície. Não se trata de um frio escrutínio do estilo de
comunicação do outro, mas sim uma calorosa olhada no coração e na mente do
outro.
Como cada pessoa é ímpar, também o é cada fusão de dois indivíduos no
casamento. Uma verdadeira junção de mentes e corações não é acidental, mas
exige empenho árduo devido à nossa natureza humana imperfeita. Por exemplo, é
muito fácil presumir que os outros encarem as coisas assim como nós as
encaramos. Muitas vezes suprimos as necessidades de outros da maneira como nós
gostaríamos que fossem supridas as nossas, talvez tentando seguir a Regra de
Ouro: “Todas as coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam, vós
também tendes de fazer do mesmo modo a eles.” (Mateus 7:12) Contudo, Jesus não
quis dizer que aquilo que você deseja deva ser suficientemente bom para
os outros. Em vez disso, você deseja que outros lhe dêem o que você
necessita ou deseja. Portanto, você deve dar o que eles necessitam. Isto
é especialmente vital no casamento, pois cada qual votou atender às
necessidades de seu cônjuge tão plenamente quanto possível.
Raquel e Roberto fizeram tal voto. E sua união marital de dois anos tem
sido feliz. Contudo, embora achem que conhecem um ao outro muito bem, às vezes
surgem situações que revelam um largo abismo na comunicação que boas intenções
apenas não podem sanar. “O coração do sábio faz que a sua boca mostre
perspicácia”, diz Provérbios 16:23. Sim, a perspicácia na comunicação é a chave
necessária. Vejamos que portas ela abre para Roberto e Raquel.
O conceito de um homem
Roberto navega num mundo competitivo onde cada homem tem de assumir seu
lugar numa ordem social, seja ele um subordinado ou um superior numa dada
situação. A comunicação serve para firmar sua posição, sua competência, sua
aptidão ou seu valor. Sua independência lhe é preciosa. Assim, ao receber
ordens em tom de exigência Roberto assume uma posição de resistência. A sutil
mensagem “você não cuida bem de sua tarefa” torna-o rebelde, mesmo que o pedido
seja lógico.
Roberto conversa basicamente para trocar informações. Ele gosta de falar
sobre fatos, idéias e coisas novas que aprendeu.
Ao ouvir, Roberto raramente interrompe quem fala, nem mesmo com pequenas
reações, tais como “hã!, sim!”, porque ele está assimilando informações. Mas se
discorda, talvez não hesite em dizer isso, especialmente a um amigo. Isso
mostra seu interesse no que seu amigo tem a dizer, explorando todas as
possibilidades.
Se Roberto tem um problema, ele prefere buscar uma solução por conta
própria. Assim ele talvez se afaste de todos e de tudo o mais. Ou talvez
procure relaxar com alguma diversão para esquecer temporariamente seu dilema.
Falará a respeito dele apenas se estiver buscando conselhos.
Se um homem procura Roberto com um problema, como no caso de Carlos,
Roberto entende que é seu dever ajudar, cuidando para não fazer com que seu
amigo se sinta incompetente. Junto com os conselhos, ele em geral fala de
algumas dificuldades suas, para que seu amigo não ache que só ele tem
problemas.
Roberto gosta de participar em atividades com amigos. Companheirismo
para ele significa fazer coisas em conjunto.
O lar é para Roberto um refúgio da arena, um lugar onde não mais precisa
falar para firmar sua posição, um lugar onde encontra aceitação, confiança,
amor e apreço. Mesmo assim, Roberto acha que vez por outra precisa estar a sós.
Talvez nada tenha a ver com Raquel, ou com algo que ela tenha feito. Ele
simplesmente precisa passar alguns momentos a sós. Roberto acha difícil revelar
seus temores, inseguranças e desgostos à sua esposa. Não quer que ela se
preocupe. Sua tarefa é cuidar dela e protegê-la, e ele precisa que Raquel confie
que ele fará isso. Ao passo que Roberto deseja apoio, não deseja comiseração.
Isto o faz sentir-se incompetente ou inútil.
A perspectiva de uma
mulher
Raquel vê a si mesma como uma pessoa num mundo de ligações sociais com
outros. Para ela é importante estabelecer e fortalecer os vínculos dessas
relações. Conversar é uma importante maneira de criar e reforçar o achego.
A dependência vem com naturalidade para Raquel. Ela se sente amada se
Roberto procura conhecer os conceitos dela antes de tomar uma decisão, embora
deseje que ele tome a dianteira. Quando tem de tomar uma decisão, ela gosta de
consultar o marido, não necessariamente para que ele lhe diga o que fazer, mas
para mostrar seu achego e dependência com relação a ele.
É muito difícil para Raquel falar explicitamente e dizer que necessita
de algo. Não deseja importunar Roberto, nem levá-lo a achar que ela é infeliz.
Em vez disso, ela espera ser notada ou faz insinuações.
Ao conversar, Raquel fica intrigada com detalhes e faz muitas perguntas.
Isto é natural, por causa de sua sensibilidade e interesse intenso em pessoas e
em relacionamentos.
Quando Raquel ouve, ela pontua as palavras do interlocutor com
interjeições, gestos afirmativos com a cabeça, ou perguntas, para mostrar que
está acompanhando o interlocutor e que se importa com o que ele tem a dizer.
Ela se esforça arduamente para saber intuitivamente o que as pessoas
necessitam. Oferecer ajuda sem ser solicitada é uma bela maneira de mostrar
amor. O que ela mais deseja é ajudar o marido a progredir na vida.
Quando Raquel tem um problema, talvez se sinta pressionada. Sente a
necessidade de falar, não tanto para achar uma solução, mas para expressar seus
sentimentos. Necessita saber que alguém entende e se importa. Com as emoções
estimuladas, Raquel diz coisas avassaladoras, dramáticas. Ela não dá um sentido
literal às suas palavras, quando diz: “Você nunca escuta!”
A melhor amiga de infância de Raquel não era alguém com quem ela fazia
coisas em conjunto, mas alguém com quem conversava a respeito de tudo. Assim,
no casamento ela não está tão interessada em atividades fora do lar, mas em ter
um ouvinte que mostre empatia e com quem possa partilhar seus sentimentos.
O lar é um lugar em que Raquel pode falar sem ser julgada. Ela não
hesita em revelar seus temores e problemas a Roberto. Se precisa de ajuda, não
se envergonha de admitir isso, pois confia que pode contar com o marido e que
ele se interessa o suficiente para escutá-la.
Raquel normalmente se sente amada e segura no seu casamento. Vez por outra,
porém, sem nenhuma razão evidente, ela passa a sentir-se insegura e não amada e
precisa urgentemente de renovada confiança e companheirismo.
Sim, Roberto e Raquel, complementos um do outro, são muito diferentes.
As diferenças entre eles criam o potencial para sérios mal-entendidos, mesmo
que ambos tenham as melhores das intenções quanto a ser amorosos e apoiadores.
Se pudéssemos ouvir a perspectiva de cada um na situação acima, o que diriam?
Cada um enxergou o seu
lado da questão
“Assim que entrei na casa percebi que Raquel estava deprimida”, diria
Roberto. “Presumi que no momento oportuno ela me diria o motivo. O problema não
me parecia ser tão grande assim. Eu achava que se eu simplesmente a ajudasse a
ver que não havia necessidade de ficar tão deprimida, e que a solução era
fácil, ela se sentiria melhor. Realmente feriu ouvi-la dizer, depois de eu a
ter escutado: ‘Você nunca me escuta!’ Senti-me como se ela me culpasse de todas
as suas frustrações!”
“O dia todo havia sido um só grande desastre”, Raquel explicaria. “Eu
sabia que não era culpa do Roberto. Mas quando ele chegou em casa todo animado,
parecia-me que ele desprezava o fato de eu estar deprimida. Por que não me
perguntou qual era o problema? Quando eu lhe disse qual era, o que ele
basicamente disse foi que eu estava sendo ingênua, e que tudo isso não passava
de uma coisa muito pequena. Em vez de dizer que entendia como eu me sentia,
Roberto, o ‘solucionador’, disse-me como sanar o problema. Eu não queria
soluções, eu queria compreensão!”
Apesar das aparências dessa ruptura temporária, Roberto e Raquel amam-se
muito. Que discernimento os ajudará a expressar inequivocamente esse amor?
Enxergar o outro
lado
Roberto achou que seria intrusivo perguntar a Raquel qual era o
problema, de modo que espontaneamente fez por ela o que gostaria que outros
fizessem por ele. Esperou que ela se abrisse e falasse. Mas a essa altura
Raquel estava deprimida não só por causa do problema, mas porque Roberto
parecia desprezar sua necessidade de apoio. Ela não viu no silêncio dele um
gesto de respeito gentil — viu nisso uma falta de interesse. Quando Raquel
por fim falou, Roberto ouviu sem interrupção. Mas ela achou que ele não estava
realmente entendendo seus sentimentos. Daí ele ofereceu, não empatia, mas uma
solução. Isto dizia a ela: ‘Seus sentimentos nada valem; você está exagerando.
Viu como é fácil resolver esse probleminha?’
Como seriam diferentes as coisas se cada qual pudesse ter visto as
coisas do ponto de vista do outro! Poderia ter sido assim:
Roberto chega em casa e encontra Raquel deprimida. “Qual é o problema,
querida?”, pergunta ele meigamente. Lágrimas começam a rolar, e as palavras
borbulham. Raquel não diz: “É tudo culpa sua!”, nem insinua que Roberto
não esteja fazendo o suficiente. Roberto põe o braço no ombro dela e escuta
pacientemente. Quando ela termina, ele diz: “Lamento que você esteja se
sentindo angustiada. Entendo por que você está tão deprimida.” Raquel responde:
“Muito obrigada por ter escutado. Sinto-me muito melhor sabendo que você entende.”
Infelizmente, em vez de resolverem suas diferenças, muitos casais
simplesmente preferem findar seu casamento no divórcio. A falta de comunicação
é o vilão que devasta muitos lares. Explodem discussões que abalam os próprios
alicerces do casamento.
*** g94 22/1 pp. 3-7 Maridos e esposas: falam realmente línguas diferentes? ***
*** g94 22/1 pp. 3-7 Maridos e esposas: falam realmente línguas diferentes? ***
Achei muito edificante este assunto homens são de marte as mulheres são de vênus mais uma vez temos que reconhecer que JEOVÁ realmente é nosso criador e nos conhece melhor que nós mesmos confesso que antes de ler este artigo eu achava que era louca pois não conseguia me entender certas horas e se eu própria não me entendia como exigir que outros entendessem ,Jeová é um Deus muito sábio fico feliz em conhece-lo e ver que ele me ajuda a me conhecer cada dia mais para que eu possa melhorar para melhor lhe servir. obrigado por postar matérias tão interessantes e apropriadas. Um abraço Eli Birigui.
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